segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fone Koss Porta Pro Falsificado - Parte 2

Por Bruno Mariani.


Em março de 2010, quando foi publicado o artigo "Fone KossPorta Pro Falsificado", não imaginava que o assunto fosse render tanto! É o post com o maior número de comentários no blog e o segundo mais acessado! Além disso, ao pesquisar no Google Brasil pelo termo "Koss Porta Pro", o artigo aparece na primeira página de resultados!

Passados três anos, o cenário permanece o mesmo: o Porta Pro ainda é o fone de ouvido mais popular entre os músicos - e também entre os falsificadores. Esse sucesso decorre basicamente da sua ótima relação custo/benefício, pois apesar de não estar no grupo dos melhores fones de ouvido do mercado, o Porta Pro foi eleito a melhor escolha na faixa de preços de $50, segundo o site headphone.com.

Ocorre que, com o tempo, os falsificadores ganharam experiência e aperfeiçoaram o processo de fabricação da réplica, de modo que hoje está bem mais difícil identificar visualmente a falsificação, como era proposto no primeiro artigo.

Nesta segunda parte, farei uma nova análise sobre o assunto, com informações atualizadas e uma abordagem mais técnica.


Porta Pro falsificado, o retorno!



Compre direto da Koss


Toda essa discussão sobre original e falso pode ser encerrada ao se efetuar a compra diretamente no site da Koss. Essa é a grande novidade em relação a 2010: eles agora enviam para o consumidor em qualquer lugar do mundo! Procedendo dessa forma, não haverá dúvida de que o fone é original.

Mas muita gente ainda não se sente à vontade em efetuar compras internacionais pela internet. Há o risco de fraude ou interceptação da transação financeira, a burocracia e os custos do processo de importação, a demora na entrega, dificuldades nos casos de devolução ou garantia, variação e conversão do dólar, além do idioma inglês.

Apesar disso tudo, penso que a única saída é comprar direto da Koss, pela garantia de que o fone será original. Já quem opta por comprar de qualquer outro fornecedor, no Brasil ou no exterior, acaba assumindo o risco de ser enganado.

Ocorre, porém, que comprar no site da Koss para entregar aqui no Brasil acaba saindo caro. Na simulação que fiz, o preço final com todos os custos de entrega e tributação totalizavam absurdos $328! Será que existe alguém disposto a pagar esse valor por um fone de cinquenta dólares? Creio que não, a menos que seja muito rico ou maluco!




Então é preciso buscar alternativas, como por exemplo, pedir para alguém trazer o fone do exterior. Hoje em dia, sempre há um familiar, amigo ou conhecido voltando de viagem dos EUA, ou mesmo aquelas pessoas que viajam para buscar encomendas e revender aqui no Brasil.

Basta comprar no site da Koss e mandar entregar no endereço onde a pessoa estará hospedada. Caso não seja possível trazer na bagagem, há ainda a opção de enviar o fone pelo serviço postal internacional. Em ambos os casos, dificilmente o custo final do Porta Pro original ultrapassaria os $100.




Comprando o falso


Para viabilizar os testes e medições que serão apresentados neste artigo, tive que fazer a aquisição de um Porta Pro genuinamente pirata, o que não foi difícil: bastou acessar aquele site onde tudo se compra e tudo se vende e adquirir um exemplar por R$69.

Como comentado no primeiro artigo, quando a conta não fecha, provavelmente se trata de um fone falso, já que é impossível vender um produto que custa cinquenta dólares nos Estados Unidos por menos de R$100 aqui no Brasil. Na verdade, veja abaixo qual é a origem dos Porta Pro vendidos na praça, e note a elevada margem de lucro que os piratões faturam com a revenda.


http://www.diytrade.com/china/pl/0-s-c-1/Search.html?qc=prd&qs=Porta+pro&ns=1



Teste das marcas de identificação


Primeiramente, ao receber o exemplar que comprei no Mercado Negro, fiquei surpreso com a embalagem, que era idêntica à original! Se estivesse na vitrine de uma loja de grife sendo vendido por R$300, duvido que alguém notaria! E esse é o maior perigo: a fidelidade da cópia da embalagem e do acabamento externo do fone. Veja nesta foto feita logo após retirá-lo do pacote.

Bonitinho, mas ordinário.

O que pude notar é que realmente as falsificações melhoraram bastante, pelo menos em relação ao aspecto físico externo. De todas aquelas marcas de identificação mencionadas no primeiro artigo, a única que consegui encontrar foi a má qualidade da impressão das letras e desenhos.

Perceba na imagem abaixo como o traço da impressão original (à esquerda) é mais preciso que a cópia (à direita). Isso fica evidente no acabamento do arco e demais detalhes no desenho do fone, ao centro. Além disso, a cor preta na impressão original é bem mais sólida que na falsa.



Original à esquerda e falsificado à direita.


Como se vê, as letras também apresentam problemas: no fone falso (à direita), o primeiro "p" de "porta Pro" e a letra "O" de "KOSS" ambas têm um traço mais fino que as demais; os "o" de "porta Pro" estão inclinados para a direita e o tipo da fonte de todo o texto não confere com o original.

E mais: no fone falso (foto de baixo), onde se lê "comfortZone", a base do "Z" está desalinhada em relação à base das outras letras, e o quadradinho azul está fora de simetria com seu vizinho prateado, o que não se observa no original (foto de cima). O tipo da fonte do texto também não confere.

Original acima e falsificado abaixo.


Enfim, essas foram as únicas evidências de falsificação que pude identificar a olho nu, o que mostra uma certa evolução no processo de fabricação e acabamento externo das réplicas, se comparado a 2010. É certo que, mesmo com essas falhas de impressão, fica difícil para um consumidor menos atento perceber detalhes desse tipo, ainda mais se não tiver em mãos um exemplar original para fazer a comparação lado a lado.



Teste do multímetro


Como apresentado no primeiro artigo, uma das maneiras de se identificar a falsificação do Porta Pro era por meio do teste com o multímetro, já que boa parte dos fones piratas tinham impedância de 30 ohms, valor bem inferior aos 60 ohms especificados pela Koss. Sendo assim, caso o valor medido fosse muito menor que sessenta, chegava-se à conclusão de que o fone era falso.

Desta vez, utilizando um multímetro profissional, obtive o valor de 57,4 ohms na medição de impedância do fone pirata (à direita), valor bem próximo do que se espera de um original!

Original à esquerda (61,5 ohms) / Falsificado à direita (57,4 ohms)


Ou seja, os falsificadores também evoluíram nesse quesito, de modo que o teste com o multímetro já não é mais tão eficaz para o propósito de se identificar uma réplica. Considerando que mesmo o fone verdadeiro pode apresentar variações em torno da impedância especificada, para mais ou para menos, o valor medido de 57,4 ohm representa uma diferença muito pequena que, por si só, não é suficiente para se chegar a conclusão alguma sobre a procedência do fone.



Teste de audição



Diante da dificuldade de se identificar um fone pirata pelos métodos de inspeção visual descritos anteriormente, resta analisar sua qualidade sonora.

O ouvido é a melhor ferramenta de quem trabalha com áudio e música. Logo, um profissional que tenha os ouvidos treinados, conseguirá perceber as diferenças entre o Porta Pro original e o falso, desde que ambos os fones estejam em mãos para efeito de comparação.

Caso se tenha a posse apenas do fone falso, sem a referência sonora do original, mesmo um técnico competente poderá se confundir, já que a sonoridade do fone falsificado não é necessariamente ruim.

No meu caso, ao escutar o mesmo programa musical em ambos os fones, pude perceber uma diferença na região dos graves, onde o Porta Pro original respondia melhor. Além disso, em volumes mais elevados, a presença de distorção era mais evidente no fone falso, que por vezes chegava a saturar.

Quem sabe ouvir não se deixa enganar!

Para mim, o teste de audição já é suficiente para encerrar o assunto, mas, por amor à ciência...



Testes de áudio


O objetivo aqui é fazer uma comparação sobre o comportamento dinâmico de cada um dos fones quando submetidos às mesmas condições de operação. Para tanto, foi montado um sistema composto por:

•  Gerador de sinais de áudio (iPad + Audio Tool)
•  Fone Koss Porta Pro (original e pirata)
•  Microfone Zoom H2
•  Adobe Audition CS5.5
•  Computador PC
•  Cabine de edição com isolamento acústico

O experimento consiste em reproduzir sinais de áudio em cada um dos fones, monitorar sua resposta através de um microfone de boa qualidade, e comparar os resultados a partir da análise dos gráficos gerados no Adobe Audition.

App Audio Tool --> iPad --> Porta Pro --> Mic Zoom H2 --> PC --> Adobe Audition.

Cumpre esclarecer que todas as fases do processo foram realizadas rigorosamente sob as mesmas condições para cada fone, em um ambiente silencioso e controlado, e que, embora este não seja o melhor sistema de avaliação de fones de ouvido que se tem notícia, já está mais do que bom para o propósito a que se destina neste artigo!



Resposta em frequência


Em resumo, a resposta em frequência é uma medida de como o fone se comporta ao reproduzir todas as frequências de áudio simultaneamente. O gráfico abaixo apresenta a resposta de cada fone quando submetidos à reprodução do ruído rosa, onde o fone original está representado pela curva verde e o falso pela curva vermelha.


(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta em frequência do Porta Pro original (curva verde) e falso (curva vermelha).



A primeira observação a ser feita é que a curva obtida com o fone original neste experimento (verde) se assemelha à curva de resposta em frequência obtida pelo site innerfidelity.com, que utiliza um instrumental bem mais sofisticado que o meu. Isso me dá segurança para realizar os testes, pois mesmo modesto, meu laboratório improvisado pode ser considerado confiável para esta análise.

Partindo para a comparação entre os dois fones, observa-se que as curvas seguem praticamente o mesmo padrão no intervalo entre 20 e 2 kHz, que compreende toda a região dos graves e parte dos médios (parte esquerda do gráfico). Há, no entanto, uma redução de aproximadamente 3dB a partir de 200 Hz no fone pirata (vermelho), o que significa uma perda de volume nessa faixa de frequências. Isso explica a sensação de deficiência nos graves em relação ao original, mencionada no teste de audição.

Outro detalhe que chama atenção está na parte direita do gráfico, a partir de 2 kHz, onde as curvas seguem tendências relativamente distintas, com destaque para a depressão que se forma em 4 kHz no fone falso. Essa extremidade do gráfico compreende a região dos agudos, onde situam-se também grande parte dos harmônicos. Costuma-se dizer que esta é a região de maior riqueza e detalhamento do som, por isso merece uma análise mais cuidadosa.

O próximo gráfico apresenta a resposta dos fones quando submetidos a um sinal senoidal de frequência 2,2 kHz.

(Clique na imagem para ampliar.)
Resposta à senóide de 2,2 kHz.

Verifica-se que não há grandes problemas com a reprodução da parte fundamental da senóide, representada pelo pico mais elevado no gráfico. O que desperta atenção, na verdade, é o comportamento dos harmônicos.

Nota-se que o Porta Pro verdadeiro (curva verde) reproduz o som com maior riqueza de detalhes, em razão da presença marcante do primeiro harmônico em 4,4 kHz e do segundo harmônico, próximo a 7 kHz. O mesmo não se observa na curva vermelha do fone falso, onde a amplitude do primeiro harmônico é pouco relevante e o segundo harmônico nem existe.

Na prática, essa deficiência de harmônicos do fone falso se traduz num som de menor definição, quando comparado ao original, o que também ocorre em outros pontos importantes do espectro de frequências.

A quem interessar, seguem os links onde estão disponíveis os arquivos de áudio resultado desta análise.
Resposta em frequência do Porta Pro falso
Resposta em frequência do Porta Pro original
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro falso
Resposta à senóide 2,2 kHz do Porta Pro original


Conclusões


A conclusão a que chego é que, por mais que as falsificações tenham melhorado, o Porta Pro original ainda é superior ao falsificado, como era de se esperar.

Mas há de se reconhecer que a diferença não é tão evidente assim, e que os falsificadores, de certa forma, estão fazendo um "bom trabalho"! É uma falsificação competente que passa despercebida por um ouvinte menos atento e pode até enganar um mais experiente.

Desse modo, arrisco dizer que o modelo falsificado deve atender às necessidades do ouvinte menos exigente, que em geral utiliza o fone para ouvir música em segundo plano, como numa caminhada, no trabalho, na academia, no transporte público, etc.

Já os que possuem uma audição mais crítica, ou os que atuam profissionalmente no ramo do áudio e música, podem se decepcionar com a sonoridade do fone falso, principalmente em volumes mais elevados, onde a presença de distorção é notória. Neste caso, vale à pena pagar o preço do original.

Enfim, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos! Enquanto isso, a turma segue usando o Porta Pro, seja lá qual for sua verdadeira origem!

Programa Encontro com Fátima Bernardes, Rede Globo, 24/01/2013.



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