quarta-feira, 2 de abril de 2008

Contrabaixo direto na mesa, pode?

Por Bruno Mariani.

Desde quando tive as primeiras experiências com bandas, em meados da década de 90, ouço o velho mito de que não se pode conectar o baixo diretamente à mesa de som, sob pena de queimar o canal correspondente ou causar qualquer outro dano ao mixer. Baseado nisso, o nobre contrabaixo sempre ficou marginalizado em relação ao resto da banda! Enquanto todos estavam plugados naquela mesa bacana cheia de controles, o baixista não podia chegar nem perto, a menos que tivesse o tal do Direct Box (DI). Inclusive, já ouvi uma estória de que a mesa explodiu assim que o baixo foi plugado no canal e o baixista tocou o mizão, rs!

Pode até ter explodido, mas certamente não foi por causa do contrabaixo! E são vários os fundamentos técnicos para sustentar tal afirmação. O assunto é relativamente complexo e envolve conceitos de
Casamento de Impedâncias, Teorema da Máxima Transferência de Potência e outras teorias de circuitos elétricos. Porém, para não restringir o público alvo deste post, vou tentar explicar de forma mais simplória.

Do ponto de vista da mesa de som, praticamente não há diferença entre conectar uma guitarra, um violão, um teclado ou um contrabaixo. Ambos trabalham em níveis de sinais semelhantes e não oferecem risco algum à mesa. Aliás, ela foi projetada justamente pra isso, receber e tratar o sinal de todos os instrumentos e microfones, sem a obrigatoriedade de acessório algum. Para isso, basta ligar na entrada certa (LINE ou MIC).

Veja, por exemplo, um esquema de ligação proposto pela
Mackie, uma das empresas mais bem conceituadas no mercado de áudio profissional. Observe que o contrabaixo (Bass Guitar) está plugado no canal 2, entrada padrão P10 (LINE), e que não há nenhum outro elemento entre o instrumento e a mesa, somente o cabo.


Fonte: Manual da Mesa Mackie Onyx 1220



Uma mesa de som trabalha essencialmente com dois níveis distintos de sinais elétricos em suas entradas:
  • MIC – é o nível de menor intensidade do sistema, podendo chegar no máximo até uns 0,245 Volts. As entradas MIC possuem baixa impedância e é nessa região em que operam os microfones. Como os sinais são muito baixos, tornam-se bastante suscetíveis a ruídos durante a transmissão, razão pela qual se devem utilizar linhas balanceadas.

  • LINE – é o nível de sinal em que operam os instrumentos musicais, tais como guitarra, violão, teclado, CONTRABAIXO. Em regra, pode variar de 0,316 a 1,23 volts. Para suportar esses níveis, as entradas LINE possuem impedância mais alta que as entradas MIC.

Conclui-se, portanto, que o uso obrigatório do Direct Box se dará apenas quando um instrumento musical (baixo, guitarra, etc) for ligado à entrada de microfone da mesa, pois o DI tornará compatível a alta impedância do instrumento com a baixa impedância da entrada MIC! O esquema abaixo ilustra essa situação:


Fonte: Manual da Mesa Mackie 1402-VLZ3
www.mackie.com/products/1402vlz3


Como diriam os Caçadores de Mitos (Myth Busters, Discovery Channel): com essas considerações, o mito foi detonado! Ora, se o contrabaixo elétrico ligado direto à mesa fosse prejudicial ao sistema, certamente o fabricante não iria propor no manual do usuário um esquema de ligação como o apresentado no primeiro diagrama.


Mas, se você é daqueles que tem dificuldades de superar velhos conceitos, não acredita nos argumentos apresentados e ainda está com medo de plugar o contrabaixo direto no canal, veja o que disse Sólon do Valle sobre o assunto. Pra quem não o conhece, trata-se do engenheiro de áudio mais respeitado no Brasil, autor de diversos livros, fundador e editor da Revista Áudio, Música e Tecnologia, Coordenador do Instituto de Áudio e Vídeo, entre muitas outras atribuições:

A conexão de um baixo elétrico a um canal de mesa jamais estragará nada! No entanto, a impedância de saída de um instrumento passivo é muito alta (da ordem de 100k ohms) e a impedância de entrada das mesas é, em geral, de 10k ohms. Isso acarretará descasamento de impedâncias e forte perda de agudos.Num instrumento ativo (com pré embutido), a impedância de saída é baixa e a conexão à entrada de linha da mesa trará ótimo resultado. O ideal para o instrumento passivo é o uso do direct box (DI) ativo, que casará as impedâncias e níveis. Sua saída, porém, deve ser ligada à entrada de microfone da mesa. É assim que se faz em grandes sistemas de P.A. e em estúdios de gravação. Por outro lado, a conexão de um instrumento ativo através de direct box também é vantajosa, pois a conexão à mesa passa a ser balanceada e de baixa impedância, ajudando a reduzir o ruído."

Sólon do Valle 


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14 comentários:

  1. Parabéns pelo tópico Bruno! Você explicou de forma simples e convincente esse velho paradigma de utilização de mesa de som.

    Coloca alguma curiosidade sobre violões e instrumentos de corda por favor...

    Agora arruma um tempo para produzir o CD da minha banda...hehehe

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  2. Boa Bruno! Já tá adicionado aos favoritos. E é só continuar explicando as coisas assim, com essa linguagem simples mas sem ser simplório, que o blog vai ser um sucesso. Dona Ceiça deve estar orgulhosa da qualidade da redação! rs

    Abração

    Barata

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  3. Boa, Bruno!
    Se o canal 9 da nossa mesa de som queimar, não fui eu!
    Abraço, boa matéria Bruno.

    Odilon.

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  4. Legal Bruno.

    Se continuar assim vou acabar aprendendo a gravar...

    Paulo Sérgio

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  5. Olá, Bruno.
    Eu só abriria um parêntese ...(...temos que levar em consideração, a mesa que estamos utilizando, o sinal do contrabaixo e em especial o “contra baixista” fator essencial para um bom sinal, pois temos mesas e Mesas de som, a Mesa que foi apresentado no exemplo é excelente, mas não podemos compará-la a outras que encontramos no mercado, com tecnologia anos 80, e suas inúmeras especificações de impedância de entrada, por Exemplo: a mesa que uso tem um bom sinal, (mesa de fabricação inglesa, sem manutenção por aqui...), porém qnd uso um dos contrabaixos diretamente no line, tenho que abaixar consideravelmente o ganho até atingir menos de zero dB, e mesmo assim o sinal fica com distorção, porém com o uso do direct box, o sinal fica sem por cento, (com “s” mesmo).
    Outra coisa, como disse anteriormente, é levar em consideração o contra baixo, quem já ouviu o som de um warwick ou music man sabe do que estou falando, e ai é que entra o fator mais importante o contra baixista, um bom equipamento sem discernimento e conhecimento fica pior que um equipo de má qualidade...)...
    ..OBS...
    ...si não fosse baterista, com certeza eu seria baixista...
    ...a parte que mais gosto da casa é a cozinha... da banda também...
    By: Dimas.

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  6. hahaha, se o Barata for o batera lá da 109S que eu conheço, vou achar engraçado... revivendo o passado.

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  7. Não. Sou o Barata da QND 25! Rs!

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  8. E esse Barata não é batera, é guitarrista dos bons!

    Bruno.

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  9. Legal Bruno vc está detonando um mito que nos assombra. E aquele papo que baixo no monitor queima o drive ou tweeter é verdade?

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  10. Rodrigo,

    Os drivers e tweeters são equipamentos projetados para reproduzir frequências médias e altas (agudos). Por essa razão, sinais de baixas frequências (graves), como é o caso do contrabaixo, podem sim comprometer o bom funcionamento desses dispositivos.

    Entretanto, monitores e caixas de som em geral, em regra, possuem internamente um dispositivo de proteção chamado "divisor de frequêncas", que basicamente separa os graves, médios e agudos e envia somente aquilo que o equipamento pode reproduzir, fazendo com que o tweeter, por exemplo, receba apenas as altas frequências (agudos) do sinal de áudio.

    Em resumo, é isso!

    Abraço!

    Bruno.

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  11. Bruno eu gostaria de saber se posso ligar a saida de linha do meu cabeçote hartke em um direct box. Faço isso quando vou tocar ao vivo. Na saida tenho o sinal pré amplificado e comprimido. Isso me dá uma melhor qualidade no p.a. Teria necessidade do direct nesse tipo de ligação? Notei também que deu um certo ruido. Valeu

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  12. Rodrigo,

    Qual é o modelo do seu amplificador?

    Bruno.

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  13. Rodrigo parabens pelo tuto me tirou uma super duvida...cara sera que daria para voce me dar uns toques? sou novo na area e estou atuando na minha igreja...entao estou me ferrando e tentando aprender coisas pela internet...sera que voce poderia me ajudar em algumas coisas? meu e-mail é will_boni@hot...
    Valeu e de novo parabens rodrigo

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  14. Muito bom mano!!! Explica o conceito e as vantagem de usar um instrumento em uma caixa separada ou seja em um cubo! Usando um microfone na frente do alto falante! O som captado pelo microfone chega legal na messa? Usa muito isso em guitarras e baixos, principalmente em studio, e não acorre a microfonia porque? Que tipo de mic é ideal e cubo? Poder usa esse processo em caixa amplificada multi-uso? Fico agradecido se puder mim explica bem definido esse método. Eu sou produtor musical, inciante, estou começando aprender as manhas de grandes Professional como você.

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